Saturday, April 14, 2007
Wednesday, November 15, 2006
Olhares...

Olhando de relance para a TV vejo Tonicha...
"Menina da saia aos folhos
quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado."

Lembro-me como se fosse hoje... Festival da Canção de 1971... como eu gostava daquela voz...
Para a semana que vem vai estar todos os dias no programa "Fátima".
Ao falar de Tonicha também temos que falar de:
Ary dos Santos
Poeta e declamador

Ary dos Santos era aquele que dizia:
"Eu não sou gordo!
Sou grande... sou imenso como a minha fome de saber!"
Auto-Retrato
Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.
Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.
Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.
Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.
José Carlos Ary dos Santos
Wednesday, August 09, 2006
Eu sei que vou te amar...

Vinicius de Moraes
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar
E cada verso meu
Será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua vou chorar
Mas cada volta tua há-de apagar
O que esta ausência tua me custou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.
in Livro de Letras
É urgente...

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas
palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
1923-2005
Thursday, July 27, 2006
Desabafo

Porque tenho que agradar a tudo e a todos?
Porque será que todas as pessoas que me rodeiam têm que achar que eu sou infalível?
Que tenho que ter pachorra para tudo e que as minhas capacidades ainda são as mesmas de há 20 anos atrás?
A raiva e o ódio instalam-se e já não querem sair.
Já não tenho 20 anos!
A paciência já não é a mesma!
As capacidades também vão falhando! Não é à toa que uso 2 pares de óculos para poder fazer a vidinha minimamente bem!
Já não tenho a ânsia de fazer as coisas como tinha!
Quero sossego, descanso!
Será que ninguém entende que vejo e sinto a vida de outra maneira?
Eu já não anseio glorias, reconhecimento nem tão pouco estatutos!
Eu quero viver a vida com calma!
Eu não corro atrás de nada, nem de ninguém!
È pecado já não ter grandes objectivos?
Se não os tenho é por culpa de terceiros?
Sim!Porque a vida me modifico e porque os meus objectivos são diferentes.
Qual é o problema de andar de transportes públicos em vez de andar num carro veloz que não me serve para nada nas ruas cheias de transito!
Qual é o problema de andar sem maquilhagem, vestida de ganga e com a depilação por fazer?
Qual é o problema de gostar de estar sozinha?
Não se pode mudar, ser-se diferente? Onde esta aquela historia de “Todos diferentes todos iguais”?
Porque é que a família nos têm como um dado adquirido?
Tenho dias em que desespero e só tenho vontade de bater com a porta!
Tenho dias em que não aguento ouvir as pessoas à minha volta a exigir que eu seja aquilo que elas querem que eu seja!
Depois pareço maluca de todo, só me dá vontade de gritar e atirar com tudo ao ar!
Eu até que não exijo muito dos outros. Façam o que tem que fazer e não me chátem!
Não me moiam!!!! Larguem-me a braguilha! Desamparem-me a loja! Larguem-me a labita! Vão morrer longe! Porra, é demais! Vão dar banho ao cão!
Eu só quero sossego, paz de espírito e que não exigissem tanto cá do eu que anda muito em baixo!
As férias foram uma merda, o regresso ainda pior!
Chego ao fim do dia e já não sei o que quero!
Possivelmente o que eu queria mesmo era uma esplanada calma, frente à praia, uma cerveja e um pouco de solidão que não faz mal a ninguém!
Thursday, June 29, 2006
Manuel da Fonseca

Como ele também eu nasci em Cerromaior! Talvez por isso é que ele é o meu escritor português de eleição.
Ninguém como ele para descrever tão bem o sofrido Alentejo de outros tempos, apesar da diferença em certas zonas não serem nenhumas.
Para quem não sabe, Cerromaior não é mais que o nome de Santiago do Cacem. Terra boa do nosso Alentejo!
Ainda tenho nos meus olhos o tempo de meninice, quando ia a caminho de Sines nas férias grandes.
Chegada a Grândola, no autocarro, ficava em pulgas para começar o caminho de curvas até Cerromaior. Depois vinha a vila e a seguir a herdade da minha madrinha, toda ela trigo pronto para ceifar. As mulheres e homens, partidos pelo meio a ceifar e a cantar aquelas cantigas de embalar.
Sim, de embalar! A meio da tarde com o sol de chapa e a ouvir aquelas cantigas doces … cadentes … somos embalados e levados para o mundo dos sonhos… e sonhamos acordados.
Ainda sinto o calor no rosto, o sabor do pão com azeitonas que eu comia ás mulheres da ceifa e depois o capataz tinha que ir pedir à minha madrinha comida para o pessoal. Eles não ficavam muito aborrecidos, porque Teresinha Reis mandava toucinho entremeado e lombo de porco assado, coisa que para aquela boa gente só passava pelo estreito em dias de festa.
Ainda sou maluca por uma açorda, por umas migas com muitos coentros e um bom ensopado de borrego pela Páscoa nos piqueniques colectivos.
Depois vinha Sines e a praia, de volta a casa de novo Cerromaior.
Apesar de ter nascido em Santiago do Cacem, os meus pais registraram-me como se eu tivesse nascido em Sines (eles moravam lá, tinham uma casa com 11 assoalhadas entre a casa de Vasco da Gama e o Castelo de Sines).
Gosto muito de Sines mas o meu coração palpita é mesmo com as cearas em Cerromaior, não que eu as tenha visto ultimamente mas pelo menos com as cearas da minha meninice.
Este Verão quero ver se lá passo e se ainda vejo as mulheres e homens partidos pelo meio a ceifar o ouro do Alentejo e a cantarem cantigas de embalar …
Monday, June 26, 2006
Já passei por muita coisa!

E um dia pimba, cortei o cabelo rente! Pente 1 e siga a marcha! Porquê?
Hipotireoidismo! O cabelo cai como as folhas no Outono, as unhas desfazem-se, só pensamos em comer, os nervos ficam destrambelhados, autênticos loucos de internar no sanatório mais próximo.
Deixamos de controlar a nossa vida, a nossa saúde, o nosso peso (pesei mais de 115Kg), as taquicardias não nos deixam fazer nada, não podemos sair à rua sozinhos, não podemos conduzir, ficamos mesmo uma merda!
5 anos de tratamento no Instituto de Oncologia de Lisboa. Um inferno! Mas apesar de tudo, de todo o inferno nada de cancro! Os deuses não se esqueceram de mim!
Mas o cabelo caiu-me mais devido aos medicamentos radioactivos que tinha que tomar para fazer os exames, para poder ver o contraste da tiróide nos gráficos. Era horrível, nem sol podia apanhar. Mas tudo passou, e cá estou com cabelo outra vez. Não é muito comprido (nunca mais foi o mesmo, ficou um pouco para o fraco), esta pelo meio das costas, mas está cá!
A saúde voltou e os maus vícios, esses, deixaram de existir! Não fumo, não bebo álcool, vicio mesmo só o de comer tudo o que passa à frente do nariz.
Voltei a casar, tive um filho (apesar dos médicos dizerem que seria impossível por causa dos tratamentos e do tal liquido radioactivo), não lhe pude dar peito mas temos sempre o leite da lata e depois o leite da vaca …
E cá estou linda e airosa!
E esta conversa toda por quê?
Porque a minha amiga Lara teve que cortar o lindo cabelo que tinha por causa dos tratamentos de quimio.
Amiga? Sim! È uma amiga virtual, mas é minha amiga! Anda sempre no meu pensamento.
Desejo que o Natal chegue breve (mesmo para que isso aconteça, as minhas férias de Verão tenham que ser mais curtas), para que o cabelo dela cresça. Será sinal de que as coisas estarão a voltar ao normal e que a saúde dela esta muito melhor.
Desejo o mesmo à Cláudia (tem o mesmo nome que a minha filha mais velha), que a cura venha rápida e o cabelo também.
É! Somos vaidosas, mas as mulheres são assim, adoramos os nossos cabelos.
Beijos para todos e sejam felizes.