Thursday, June 29, 2006

Manuel da Fonseca




Como ele também eu nasci em Cerromaior! Talvez por isso é que ele é o meu escritor português de eleição.
Ninguém como ele para descrever tão bem o sofrido Alentejo de outros tempos, apesar da diferença em certas zonas não serem nenhumas.
Para quem não sabe, Cerromaior não é mais que o nome de Santiago do Cacem. Terra boa do nosso Alentejo!
Ainda tenho nos meus olhos o tempo de meninice, quando ia a caminho de Sines nas férias grandes.
Chegada a Grândola, no autocarro, ficava em pulgas para começar o caminho de curvas até Cerromaior. Depois vinha a vila e a seguir a herdade da minha madrinha, toda ela trigo pronto para ceifar. As mulheres e homens, partidos pelo meio a ceifar e a cantar aquelas cantigas de embalar.
Sim, de embalar! A meio da tarde com o sol de chapa e a ouvir aquelas cantigas doces … cadentes … somos embalados e levados para o mundo dos sonhos… e sonhamos acordados.
Ainda sinto o calor no rosto, o sabor do pão com azeitonas que eu comia ás mulheres da ceifa e depois o capataz tinha que ir pedir à minha madrinha comida para o pessoal. Eles não ficavam muito aborrecidos, porque Teresinha Reis mandava toucinho entremeado e lombo de porco assado, coisa que para aquela boa gente só passava pelo estreito em dias de festa.
Ainda sou maluca por uma açorda, por umas migas com muitos coentros e um bom ensopado de borrego pela Páscoa nos piqueniques colectivos.
Depois vinha Sines e a praia, de volta a casa de novo Cerromaior.
Apesar de ter nascido em Santiago do Cacem, os meus pais registraram-me como se eu tivesse nascido em Sines (eles moravam lá, tinham uma casa com 11 assoalhadas entre a casa de Vasco da Gama e o Castelo de Sines).
Gosto muito de Sines mas o meu coração palpita é mesmo com as cearas em Cerromaior, não que eu as tenha visto ultimamente mas pelo menos com as cearas da minha meninice.
Este Verão quero ver se lá passo e se ainda vejo as mulheres e homens partidos pelo meio a ceifar o ouro do Alentejo e a cantarem cantigas de embalar …

Monday, June 26, 2006

Já passei por muita coisa!

Já passei por muita coisa! Nasci quase rica, depois do acidente do meu pai ficamos pobres, tudo passou e voltei a ser filha de gente com muito dinheiro. No 25 de Abril mais uma vez virei filha de pobres, fiz os 13 anos a carregar baldes de cimento as costas para ajudar o meu pai e assim voltamos a ser gente com dinheiro. Casei, tive uma filha, divorciei-me. Vivi por esse mundo fora, pintei o corpo (nunca tive coragem para fazer uma tatuagem), tinha madeixas azuis no cabelo, vestia cabedal e as meias já eram rotas de nascença (na Holanda a roupa dos Punks era muito cara). Fumei que nem uma puta presa, bebia como se não houvesse amanhã, mas o cabelo, esse sempre grande, muito grande (o meu pai chegava-me a perguntar se eu levava saia vestida quando saia para a rua).
E um dia pimba, cortei o cabelo rente! Pente 1 e siga a marcha! Porquê?
Hipotireoidismo! O cabelo cai como as folhas no Outono, as unhas desfazem-se, só pensamos em comer, os nervos ficam destrambelhados, autênticos loucos de internar no sanatório mais próximo.
Deixamos de controlar a nossa vida, a nossa saúde, o nosso peso (pesei mais de 115Kg), as taquicardias não nos deixam fazer nada, não podemos sair à rua sozinhos, não podemos conduzir, ficamos mesmo uma merda!
5 anos de tratamento no Instituto de Oncologia de Lisboa. Um inferno! Mas apesar de tudo, de todo o inferno nada de cancro! Os deuses não se esqueceram de mim!
Mas o cabelo caiu-me mais devido aos medicamentos radioactivos que tinha que tomar para fazer os exames, para poder ver o contraste da tiróide nos gráficos. Era horrível, nem sol podia apanhar. Mas tudo passou, e cá estou com cabelo outra vez. Não é muito comprido (nunca mais foi o mesmo, ficou um pouco para o fraco), esta pelo meio das costas, mas está cá!
A saúde voltou e os maus vícios, esses, deixaram de existir! Não fumo, não bebo álcool, vicio mesmo só o de comer tudo o que passa à frente do nariz.
Voltei a casar, tive um filho (apesar dos médicos dizerem que seria impossível por causa dos tratamentos e do tal liquido radioactivo), não lhe pude dar peito mas temos sempre o leite da lata e depois o leite da vaca …
E cá estou linda e airosa!
E esta conversa toda por quê?
Porque a minha amiga Lara teve que cortar o lindo cabelo que tinha por causa dos tratamentos de quimio.
Amiga? Sim! È uma amiga virtual, mas é minha amiga! Anda sempre no meu pensamento.
Desejo que o Natal chegue breve (mesmo para que isso aconteça, as minhas férias de Verão tenham que ser mais curtas), para que o cabelo dela cresça. Será sinal de que as coisas estarão a voltar ao normal e que a saúde dela esta muito melhor.
Desejo o mesmo à Cláudia (tem o mesmo nome que a minha filha mais velha), que a cura venha rápida e o cabelo também.
É! Somos vaidosas, mas as mulheres são assim, adoramos os nossos cabelos.
Beijos para todos e sejam felizes.